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Pelo fim do gozo do juízo



O homem prende o homem e o tortura, depois o chama de louco. Depois de privá-lo de sua subjetividade, adestrá-lo e alfabetizá-lo na língua morta dos cheios de razão, os que têm dificuldade evidenciam-se, irrecuperáveis retardatários do progresso: são as crianças hiperativas, os que lêem mal, os que são violentos, os que são reprovados, os que desistem de se inserirem no mundo dos que sabem mais e saem-se muito melhor e servem ainda com alta capacidade de produção, neste mundo em que tudo é máquina do poder e não da diferença que submerge aos ditos dos professores mal pagos e cruéis, abusadores fascistas de criancinhas de 3 anos. Sim, as escolhinhas estão cheias destas professorinhas e as creches e as escolas de primeiro grau e os sanatórios, e os tribunais e as delegacias e as prisões (não nas celas) e nos consultórios e nas pós-graduações: tudo que especializa e adestra o ser na medida exata ordenada de sua poda, em pedaços cada vez menores de si, até o último resquício da criatividade subjetiva que aquele ser pudesse desenvolver, se apoiado pelo amor ao diferente quando precisasse de suporte por tentar outra maneira de entender o mundo, ou de vestir a roupa, ou de amarrar os cadarços....Sim o mundo é um mundo de juízo final, como dizia Artaud_ não pelo fim de deus mas do seu julgamento_ de juízo total e final e definitivo e castrante, edipiano e coercitivo, que não sabe reconhecer responder na leitura das coisas um loop fechado de sua própria repetição exo-modelada,  fixa morta e decepada em padrões que ele copia por imposição velada,  beijando as próprias algemas do saber e do sentir e do desejar e do apaixona-se...Sim seres irrecuperáveis, depois de tanta crueldade e depois de serem extirpados de suas potencialidades e amarrados em seu aparente não saber o que não lhes explicaram duas vezes, ou três ou se preciso mais, aquele problema assim de forma mais paciente, que não lhes deixaram ser inteiros mesmo sem alguma capacidade que não lhes servisse, que não lhes disseram que não precisariam ser nada do que não quisessem e ao contrário, lhes pressionaram a face ameaçando-lhes a integridade por causa de suas dificuldades e sem piedade lhes tiraram o direito de ter dificuldade e lhes fizeram maldades e lhes obrigaram a fazer maldades pela crueldade de imputar o fascismo em quem não imaginaria machucar o outro, e na velada selvageria lhes disseram : irrecuperável, incurável, levai-o....Assim, machucado, execrado, dilacerado, julgado, torturado, deixam-no  no canto que lhe sobra o sonho e soçobra as sobras da sociedade produtiva....corpo louco fugido das amarras do polvo i-mundo....
A selvageria do homem é seu juízo, emérito e congratulado em medalhas de guerra....pelos prêmios do que destruiu e matou nos outros, seja o corpo, a criatividade, a sanidade, o desejo, a poesia ou a veracidade. Logo, chamam-no, esse outro, de outro, de insano e sem ordem. Todos têm razão. Todos têm juízo. Não defendo os loucos, mas ataco os que lhes tiraram a sanidade com eletrochoques de eletricidade ou de tortura psíquica. E falo de quem? Não, não de mim, não é a mim que defendo...eu escapei por fino talvez por sorte ou por maleabilidade, não por não ter sofrido o teste do fascismo, talvez por amor ou por alguma coragem que desconheço a origem, e inseri-me a fui abraçada pelo polvo e de alguma forma desmembrei seus tentáculos em poesia ou talvez num texto que se entrega à coerência como quem segue à alguma corte marcial, com algum corte, mas resignado e aproveitando as ironias do momento em risadinhas salvas pelo humor. Embora ciente também adquiri modos com chaves e recentemente algum “modo researcher” (A), talvez algum anticorpo desse corpo de saber que impinge juízo. Estou bem, aviso: é por compaixão aos desajustados que enuncio.
E depois do desabafo, é preciso voltar ao parágrafo....

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